Os conectores ecológicos são vias naturais que facilitam os movimentos dos organismos vivos entre ecossistemas similares e permitem o intercâmbio de genes entre as suas populações. Quanto maiores são as interações entre os organismos de uma mesma espécie ou de espécies diferentes, maior é a conectividade ecológica. Enquanto os “corredores ecológicos” normalmente são faixas alongadas de vegetação, os conectores ecológicos são verdadeiras redes de vias de interconexão que fluem em diferentes sentidos.
Os conectores ecológicos são perceptíveis a diferentes escalas geográficas (por exemplo, à escala local, setorial, regional, continental) e todos eles desempenham um papel importante na conservação dos espaços naturais e das suas respectivas diversidades biológicas. Deste modo, tanto um parque urbano ou periurbano pode 2
exercer uma função de conector ecológico para algumas espécies de animais e plantas, como também o fazem as ribeiras, os rios ou determinadas cordilheiras montanhosas.
Como vias de comunicação naturais que são, os conectores ecológicos podem ser utilizados para potenciar a dispersão de plantas e animais autóctones entre áreas ou regiões mais isoladas, através de trabalhos de restauração ambiental e resilvestração (rewilding em Inglês) baseados em critérios científicos. Do mesmo modo que sementes de espécies de plantas nativas são dispersadas pela fauna local através dos conectores, determinadas plantas exóticas invasoras também podem colonizar espontaneamente estas vias de comunicação e serem disseminadas para outros espaços naturais. Portanto, é fundamental empreender programas continuados de controlo de plantas invasoras ou potencialmente invasoras nos conectores ecológicos, tais como o pitósporo-ondulado (Pittosporum undulatum), a tintureira (Phytolacca americana) e os ligustros asiáticos (Ligustrum spp.).
Para potenciar a conectividade ecológica, é preciso preservar e conservar adequadamente não só os sistemas montanhosos das serras, mas também os vales intermontanos, com os seus espaços agropastoris, e os sistemas fluviais, com os seus respectivos bosques autóctones de ribeira. A conservação adequada destes ecossistemas florestais e agropastoris permite não só incrementar os fluxos de genes entre as populações de plantas e animais de uma mesma espécie, como também incrementa as interações ecológicas entre as espécies. Por outro lado, a conservação dos ecossistemas ripícolas e de outros ambientes próximos confere uma maior proteção às bacias hidrográficas (fontes naturais, arroios, ribeiras, lagos e rios).
Nos últimos anos, um grande esforço tem sido feito no sentido de estabelecer e conservar corredores e conectores ecológicos à escala continental. Um exemplo destas práticas é o Cinturão Verde Europeu, um projeto que pretende comunicar, ao longo de um eixo norte-sul, parques naturais, parques nacionais, reservas da biosfera e áreas da Rede Natura 2000 entre diferentes países da Europa.
Na Península Ibérica existem também diversas possibilidades para se potenciar a conectividade estrutural e ecológica entre áreas naturais transfronteiriças, como é o caso do Conector Transibérico (CTI), entre Espanha e Portugal. Esta rede de espaços naturais compõe-se essencialmente de ecossistemas mediterrânicos e de influência atlântica que se distribuem ao longo de um eixo este-oeste de um extremo a outro da Península Ibérica. Ele está formado pelas cadeias montanhosas que integram o Sistema Central, o Sistema Ibérico e áreas adjacentes, onde habitam diversas espécies incluídas nas diretivas sobre aves e habitats da União Europeia.
Trata-se de um grande conector ecológico, com potencial para interligar, num futuro próximo, áreas situadas relativamente próximas do Mar Mediterrâneo (zonas de Els Ports e das Muntanyes de Prades, na Catalunha) e do Oceano Atlântico (Serras de Aire e dos Candeeiros, em Portugal).
J.C. Guix & Isabel Alves.
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Série Laurus, nº 3. Outubro de 2023