Os jardins são espaços planeados que contêm coleções de plantas vivas. Muitas destas plantas atraem diversas espécies de invertebrados e vertebrados. Estes alimentam-se do pólen e do néctar das flores e também da polpa suculenta de alguns frutos carnosos.
Grande parte, ou talvez a maioria, das plantas que encontramos comumente nos jardins públicos e privados nas cidades, vilas e pequenas quintas, pertencem a espécies exóticas, ou seja, não nativas. Este fato tem consequências para a flora e a fauna autóctones, assim como para os espaços naturais mais próximos.
Cada vez que um inseto polinizador, ou uma ave frugívora, se alimenta de plantas não nativas, em realidade está a deixar de interagir com as plantas autóctones de um lugar ou região. Por outro lado, diversas espécies de pássaros migratórios, que se alimentam de frutos de plantas exóticas nas áreas urbanas, transportam com frequência as suas sementes para áreas com vegetação nativa. Assim sendo, tem vindo a constatar-se que diversas destas plantas urbanas colonizam e, nalguns casos invadem mesmo, diversos ecossistemas naturais e seminaturais.
No entanto, é possível reverter esta situação. Basta evitar o cultivo de espécies potencialmente invasoras e plantar, preferencialmente, espécies nativas de cada região. Em Portugal continental existe um grande número de plantas autóctones, algumas de ampla distribuição geográfica, tais como os medronheiros (Arbutus unedo), os pilriteiros (Crataegus monogyna), os abrunheiros-bravos (Prunus spinosa), os folhados (Viburnum tinus) e as gilbardeiras (Ruscus aculeatus), que são muito adequadas para o plantio nos jardins públicos e privados.
Por um lado, produzem flores e frutos belos que nos alegram a vista e que servem de alimento para borboletas, abelhas solitárias, aves frugívoras e muitos outros animais. Desta forma, ao invés de exportarem plantas exóticas,os jardins passam a exportar pólen e sementes de plantas nativas. Por outro lado, as plantas autóctones estão melhor adaptadas ao clima de cada região e, frequentemente, requerem menores volumes de água e são mais resilientes que as plantas exóticas.
Ao observar os lugares onde as plantas crescem em estado natural é possível reproduzir condições similares nos meios urbanos: por exemplo, espécies heliófilas (geralmente de ambientes abertos) em lugares mais ensolarados e espécies ombrófilas (geralmente de sub-bosques) em lugares com mais sombra. É muito importante para os insetos polinizadores e as aves frugívoras deixar que as plantas completem os seus ciclos de floração e frutificação.
Um pequeno jardim parece pouco no contexto urbano, mas a soma de todos os jardins públicos e privados de uma grande cidade ou mesmo de uma pequena vila representa uma grande conquista para a conservação do meio ambiente.
J.C. Guix & Isabel Alves.
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Série Laurus, nº 2. Outubro de 2023